A agência de classificação de risco Fitch Ratings divulgou um relatório nesta quinta-feira, 26 de setembro, destacando que, apesar do forte crescimento econômico do Brasil, as incertezas fiscais permanecem significativas. A Fitch alertou que a política fiscal do país não está acompanhando o desempenho econômico, o que pode trazer desafios crescentes para o governo federal no próximo ano.
O relatório da Fitch sublinhou que o desempenho fiscal do Brasil tem sido mais fraco do que o esperado, em comparação com as projeções orçamentárias iniciais para 2024. A agência destacou um descompasso entre a política fiscal e o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), o que pode impactar negativamente a classificação de risco do país, atualmente em “BB”.
A Fitch apontou que as tentativas do governo de aumentar as receitas, como o uso de dividendos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e de dinheiro esquecido em bancos, são instáveis. Essas medidas são vistas como transitórias ou com benefícios incertos, não oferecendo melhorias fiscais estruturais.
No lado das despesas, a agência destacou o crescimento dos gastos previdenciários acima do previsto, o que levou a cortes nas despesas discricionárias. Esse cenário representa um dos principais desafios para o cumprimento das metas fiscais nos próximos anos, segundo a Fitch.
A projeção da Fitch é que a relação dívida/PIB do Brasil aumente de 74,4% em 2023 para 77,8% em 2024, e 83,9% até 2026. Esses números estão acima do esperado anteriormente e distanciam o Brasil da mediana da categoria “BB”, que é de 55%.
A divulgação do relatório da Fitch teve impacto imediato no mercado financeiro, com a curva de juros voltando a subir. As taxas longas aumentaram cerca de 10 pontos, refletindo a preocupação com a incerteza fiscal, enquanto a ponta curta seguiu o comportamento das Treasuries e as projeções do Banco Central.
Especialistas do mercado, como Luciano Rostagno da EPS Investimentos e Caio Tonet da W1 Capital, expressaram preocupações sobre a credibilidade fiscal do Brasil. Eles destacaram que a falta de sinais de mudança na política fiscal do governo contribui para o aumento do prêmio de risco.
O BTG Pactual também observou que o diferencial de juros de longo prazo entre Brasil e Estados Unidos está sendo impulsionado por preocupações fiscais. A incerteza sobre o cumprimento das regras fiscais para 2025 aumentou, especialmente devido à dependência de fontes de receitas incertas no orçamento enviado ao Congresso.